Por Alexandre Passos Bitencourt
A
imagem acima representa a dicotomia do bioma da caatinga que
corresponde, basicamente, os períodos de seca e chuva, contudo, àqueles que
não a conhece, certamente, terá uma impressão não muito agradável, se conhecê-la
no período de estiagem, principalmente se esse é prolongado, o que não é muito
incomum nessa região. Visitar a caatinga em época de seca é deparar-se com um
ambiente hostil e pouco afável para quem não está adaptado ao clima seco e
árido. A primeira impressão que nos vem à mente é a de que parece que tudo está sem
vida, sobretudo, porque a vegetação se apresenta com um aspecto seco, com árvores
desfolhadas, e com uma flora rasteira entrelaçada,
formada por uma diversidade de espécies de plantas, de modo que se o indivíduo
tentar adentrar nela sem proteção, sairá todo arranhado pelas pontas secas das comunidades
florísticas que são típicas dessa região.
Andar
na caatinga no período de intensa seca é desanimador, pois as pessoas ficam
desnorteadas, desesperançadas, sem terem a quem se agarrarem, é como se aquela
situação fosse estranha a elas, isto é, como se não convivessem a vida toda com
a seca e com a ausência do poder público, que certamente deveria socorrê-los com
políticas de combate à seca, a única esperança que os sertanejos que habitam na
caatinga nordestina têm mesmo é em Deus, pois acreditam que Ele logo os
socorrerá com chuva.
Talvez
tenha sido por meio desse senário desolador a qual se encontra o sertanejo
todos os anos, (porém tem aqueles que nunca deixaram os sertões nordestinos) que
o poeta João Cabral de Melo Neto foi
motivado a descrever o homem sertanejo com um certo pessimismo, descrevendo-o nos primeiros versos do poema “O luto no Sertão”, como sujeitos com impossibilidade
de não viver sempre enlutado pelo sertão afora, ou seja, para ele o indivíduo
que nasce no sertão não tem outra escolha, pois esse já está determinado a ser
mais um enlutado, porque no sertão o luto
é nato. Dados os mais de quinhentos anos de incapacidade do Brasil de lidar
com os problemas causados pela seca no Nordeste, fazendo com que muitos
habitantes dessa região tenham desistido de viver aí, preferindo a mudança em
direção aos grandes centros em busca de “dias
melhores”. Tal posicionamento do poeta em relação ao sertanejo pode ser
compreensivo.
Pelo Sertão não tem
como
Não se viver sempre
enlutado;
Lá o luto não é de
vestir,
É de nascer com, luto
nato.
(João Cabral de Melo
Neto)
No
entanto quando se olha a imagem inferior, logo, de início se percebe o enorme
contraste com a superior, uma vez que ela mostra um ambiente deslumbrante, na
verdade é a representação de um verdadeiro oásis em pleno sertão.
Característica peculiar da caatinga, pois basta dar a primeira chuva para que
em poucos dias o senário desolador da seca, mude não somente a vegetação, que
rompe com aquele visual seco e sem vida, e passa a ter uma vista verde e
alegre, representando o nascimento de uma nova esperança aos sertanejos, mas
principalmente o comportamento do nordestino, isto é, da nascença de esperança
de que virão dias melhores, pois com a terra molhada, logo vão poder plantar e
ter fartura, e com o pasto todo verde, agora os animais vão engordar novamente.
O
sertão com sua caatinga é, sem dúvida, um lugar extraordinário, colorido com uma
vista dicotômica que varia entre os períodos seco e verde, com predomínio
maior do período seco. Isso ocorre porque o sol e o intenso calor são características
intrínsecas da região, e claro, é também um lugar marcado por uma enorme
desigualdade social, característica que não é restrita ao sertão. É também
palco de uma grande diversidade cultural, oriunda da cultura popular que, mesmo sendo constantemente enquadrada sob a perspectiva discursiva dos “de
baixo”, é portadora da verdade e da existência, pois revela o movimento
da sociedade, como bem apontou Milton
Santos em seu livro “Por uma outra
globalização”. O que falta no sertão, a meu ver, é a aplicação de políticas públicas que
funcionem, no enfrentamento da questão da seca, que tanto aflige milhões de
pessoas que nascem e vivem nessa região do
Nordeste brasileiro. Não políticas paliativas, apenas para permanecer viva a
indústria do famigerado carro pipa,
assunto que pretendo tratar no próximo texto. Mas sim, políticas de
reparação, para tentar atenuar as centenas de anos de abandono e descaso da
Federação em relação ao povo nordestino.
E
aos que ainda não conhecem a caatinga, fica o convite, Venham Conhecê-la, pois é conhecendo que melhor compreendemos. A figura abaixo é uma das maravilhas que aformoseiam a caatinga no período chuvoso.
(Foto: Aldaci Barrense)