O
homem do meu lado no metrô disse que a semana está começando e que “só os
fortes chegarão até o final”.
Ele
falava ao telefone e obviamente não comigo. Não tenho amizade com pessoas que
gostam de empregar tal sentido à palavra forte.
Devo
ter passado uns 2 minutos pensando na frase que mais parecia um mantra de autoajuda.
Chega!
Seja lá o que isso quer dizer, não sou forte nem pra refletir sobre uma citação,
quanto mais para ir até o final, pensei.
O
sinal telefônico ia ficando cada vez mais baixo, enquanto a voz do ilustre
passageiro ia só aumentando.
-Caiu.
Disse
ele em tom de tristeza e repousou as costas na parte de trás do banco.
Olhei
a estação atual: restavam ainda seis para o meu desembarque.
-Você
paga uma fortuna nisso daqui e ele não funciona.
Disse
o senhor, já um pouco conformado com toda aquela situação tecnológica-constrangedora.
-Não
disseram que iam colocar antenas nas estações? Não disseram?
Olhou
para mim.
Fiz
uma expressão de desânimo e tentei parecer neutro, enquanto olhava novamente as
estações. Faltavam quatro.
Realmente
o centro é um pouco longe.
Entra
um ambulante: gritaria, vendas, guardas e algumas risadas. Nada fora do comum.
Essa cidade tem dessas coisas e você logo se acostuma.
-Será
que eles pagam imposto?
Perguntou
uma mulher ao vento e abotoou o último botão superior de sua camisa listrada.
Três
estações para mim.
Comecei
a ficar com medo. Será que aquele cara ia descer na mesma estação que eu? Ele
era meu vizinho e eu nunca percebi? O quão desligado estou eu do mundo?
O
vagão esvazia e a hora do rush logo não parece ser mais a hora do rush, tanto
assim. Todo mundo com seu celular fazendo qualquer coisa. Qualquer coisa que
fosse útil. Útil para fazer com que o tempo passasse mais rápido.
Do
que adianta chegar ao final se você não viveu o caminho?
Passar
todo o tempo se entretendo com uma tela de vidro parece ser o jeito mais fácil
para manter o rumo.
Difícil
mesmo é brigar, é rir, é reclamar do que está errado, reclamar do tempo frio e
do frio das pessoas.
É
sentir.
Ser
forte pra mim é isso: é aceitar essa nossa natureza de não ser forte o
suficiente para superar tudo.
E
tudo bem. É como dizem os caras do Codinome Whinchester: tome mais remédios
para não se atirar de um prédio.
E quem sabe você chegará até o fim.
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